Um meme para Penélope: entre a mitologia grega e a internet
- Sílvia Lazzaretti
- 28 de nov. de 2022
- 4 min de leitura
O filme Titanic foi produzido em 1997 e é uma das histórias mais lembradas da década de 90. Há pouco tempo atrás, a personagem Rose, tornou-se um “meme”, já que ao começa a contar a própria história com um “Já faz 84 anos”.

Neste post, você terá uma relação entre a personagem Rose de emblemático Titanic com a Penélope da mitologia grega. Todo mundo conhece a Rose, porém a maior parte das pessoas desconhece sobre mitologia. Então, cabe aqui um pouco da história de Penélope e do porque relacionar as duas personagens.
Eu sei, você quer saber a história da Penélope e eu quero contar. Mas antes, preciso explicar alguns conceitos... Vamos lá?
O que é arquétipo?
Existe um conceito chamado “arquétipo”, cunhado pelo psicanalista Carl Jung. De maneira sintética, os arquétipos são personagens que têm características semelhantes e percebidas em todos os seres humanos. Estes comportamentos estão no que Jung chama de “inconsciente coletivo” e são compreendidos por meio das diferentes formas de expressão. No cinema, na literatura, no teatro e na música encontramos facilmente estas complexas características familiares. São as chamadas “heranças psicológicas”, experiências de várias gerações em situações do cotidiano.
Os arquétipos são encontrados inicialmente em histórias antigas que chegaram até a contemporaneidade. Por exemplo, os mitos são narrativas compostas por personagens cheios de ensinamentos e valores sobre a vida. Os comportamentos dos personagens mitológicos trazem conselhos a quem tiver passando pelas mesmas situações.
Quem começa a estudar mitologia, logo percebe as narrativas no seu cotidiano e nas obras artísticas que consome. Foi assim, que comecei a olhar com profundidade para os personagens do cinema.
Chegamos lá juntos, então senta que lá vem história...
Rose e Penélope, o que tem a ver?
Rose é o arquétipo da Penélope, personagem da mitologia grega. As duas mulheres tem tamanhas semelhanças, quanto tempo de vida.
Um pouco sobre Penélope

Penélope é filha de Ícaro, um príncipe espartano, e casar-se com ela é uma espécie de cobiça. Afinal, além de ser filha de príncipe, ela era bela, jovial, decidida, leal e herdeira de um trono.
A cultura grega está repleta de contos e mitos patriarcais. Sua sociedade era baseada em famílias em que os chefes eram os patriarcas. Assim, era muito importante casar-se logo que a pessoa chegasse à vida adulta. Por isso, diversos homens estavam dispostos a participar de disputas extremamente perigosas em que o prêmio fosse o matrimônio com uma mulher poderosa e nobre. Era um misto de exposição da própria virilidade e competição violenta pela mulher dos sonhos.
Depois de diversos homens morrerem pela mão de Penélope, encontra-se o vencedor: Ulisses, um forte e corajoso guerreiro. Apesar de não se conhecerem, o casal vive por anos em uma espécie de lua de mel, apaixonados e felizes com a vida de casados.
Que lindo, não é mesmo? Não podemos esquecer, porém, que mitologia grega é feita de tragédia. O fim não é “felizes para sempre” aqui.
Ulisses é guerreiro e guerreiros vão para a guerra. Não qualquer uma, porém. Ele é convocado ao exército para a guerra de Tróia. A despedida do casal foi um mar de lágrimas, já que nesta época não existia whatsapp e não haveria comunicação entre o casal. Notícias dependem de mensageiros, que levam meses para chegar ao destinatário. Além disso, havia a possibilidade da morte, mesmo para um homem invencível como Ulisses.
Os anos passam e Penélope continua paciente e esperançosa sobre o retorno de seu benzinho. A pressão para que ela se cassasse novamente não era pouca, pois uma mulher sem esposo era considerada inútil e todo mundo achava que o moço havia morrido. Ela faz uma negociação com o próprio pai: ao terminar de tecer uma colcha, estaria disponível a um novo casamento.
Ela sabia que seu querido Ulisses estava vivo. E para isso, sabota a negociação com o pai: durante o dia tecia a colcha, que pela noite desfazia. Assim, demoraria o dobro de tempo para terminar o trabalho e ganharia muitos meses na esperança de reencontrar seu esposo. Em uma das noites, uma das escravas de seu pai a vê e conta ao patriarca. E assim, Penélope precisou continuar o trabalho, rezando para que Ulisses voltasse ao lar.
Terminada a colcha, Penélope se vê obrigada a promover novo casamento. Os jogos acontecem novamente e o prêmio seria a própria Penélope. Um homem com vestes rasgadas, corpo machucado vence a batalha. Logo a mulher percebe que aquele é seu esposo e corre aos braços dele.
A Guerra de Tróia durou 10 anos.
Tecer era a prática feminina de contar a história e é desta forma que Penélope aguarda seu amor: tecendo a história da guerra de Tróia. Aqui é muito interessante observar a forma de contar os acontecimentos do evento. Os panos, colchas e tapetes levavam toda a sorte de símbolos que contassem como a guerra estava acontecendo. Se eram tecidos pelas mulheres, logo as historiadoras eram elas.
As mulheres esperavam por anos a volta de seus esposos, filhos, netos, sobrinhos, pais para casa. A espera não as fazia deixar a história de lado, pelo contrário, usavam seu tempo para exercitar sua expressão por meio dos tecidos que ali estavam. Assim, Penélope se torna uma personagem mitológica grega assim como um arquétipo da mulher paciente que conta a suas histórias com saudades, emoção e principalmente paciência.
Entendeu a relação entre a Penélope e a Rose?
Esta Personagem ensina a paciência sobre esperar o amor, enquanto a história coletiva é contada. Rose, personagem de Titanic, guarda o amor mais puro que sentiu por Jack por 84 anos e na narrativa fílmica, ela conta a história do grande navio a partir-se.
Ao contrário de Rose, Penélope reencontra o esposo, após 10 anos tecendo uma só colcha.
Você encontrou sua Penélope-Rose?
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